quarta-feira, 9 de março de 2011

Mulher...

Recebi esse texto de uma amiga, e como o Dia da Mulher já passou, mas nossa luta é diária, fica aí pra reflexão - lembrando que não ser "super" também reduz as despesas e tempo gasto com psicólogos, psiquiatras, bolinhas e afins...:

Texto na Revista do Jornal O Globo




'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é


possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito


prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa


profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias,


ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições,


cuido dos filhos, telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas,


namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e


mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente,


compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as


unhas e depilação!





E, entre uma coisa e outra, leio livros.





Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.





Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas


que operam milagres.





Primeiro: a dizer NÃO.





Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.





Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.


Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.





Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe


apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para


os outros..




Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que


desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse


direitinho.





Você não é Nossa Senhora.





Você é, humildemente, uma mulher.





E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida


interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser


sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não


é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É


ter tempo.





Tempo para fazer nada.





Tempo para fazer tudo.





Tempo para dançar sozinha na sala.





Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.





Tempo para sumir dois dias com seu amor.





Três dias..





Cinco dias!





Tempo para uma massagem..





Tempo para ver a novela.





Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de


beleza.





Tempo para fazer um trabalho voluntário.





Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.





Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.





Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.





Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente


organizada e profissional sem deixar de existir.




Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou


pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.





Existir, a que será que se destina?



Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.





A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se


não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está


tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.






Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de


si.





Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!





Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.


Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir


e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para


usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha


trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.




Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o


hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.


Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso,


francamente, está precisando rever seus valores.




E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar


e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco


estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida


interessante'










Martha Medeiros - Jornalista e escritora




Foto imagem Hortênsias – Chuva

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