Meu blog estava abandonado, mas eu já estava querendo voltar a escrever algumas linhas aqui há um tempo...
Estamos em 2020, e como é do conhecimento de quase todos, é um ano totalmente atípico. Há uma pandemia e um vírus à solta, mudando drasticamente muitas coisas que estávamos acostumados a ver, desnudando outras, e por aí afora.
Mas - não vim escrever sobre vírus. Nem sobre pandemia. Nem sobre morte.
Eu vim escrever sobre um cometa, e como isso já está na minha cabeça há vários dias.
Eu gosto de ler, mas, infelizmente, é um hábito que preciso retomar. Esse ano li poucos livros - alguns infanto-juvenis - porque, embora o tempo até esteja livre em alguns momentos, a cabeça não está. Aí é mais fácil ler livros sem muita pretensão.
Um desses livros, lido recentemente, é "A menina que descobriu o Brasil", de Ilka Brunhilde Laurito. O livro conta a história de alguma antepassada da autora, quando chegou, ainda menina, ao Brasil, vinda da Itália - a Fortunata. As adversidades vividas pela família, tanto na Itália, quanto no Brasil, a família aumentando, mescladas com histórias dos outros imigrantes, todos vizinhos.
Numa parte do livro, todo mundo está ansioso, porque o cometa Halley vai aparecer nos céus. É um evento - congregando famílias, vizinhos, como se fosse uma festa. Os jornais noticiam a passagem do cometa, algumas pessoas acreditam que ele vai cair na Terra - enfim, é um fenômeno pelo qual todos aguardam ansiosamente.
Alguns trechos do livro:
"Para mim, a aproximação do Halley era a esperança de novos tempos. Tempos de luz. Como se todas as tristezas, antigas e recentes, pudessem ser varridas da memória e da vida pela cauda de um astro. (...)
Enquanto ia esperando (...), eu olhava o céu todas as noites, à espera do milagre estelar.
(...)
A noite anunciada pelos jornais afinal chegou. E era realmente como se fosse uma véspera de natal o advento daquela estrela, que, diziam, era a mesma que, em Belém, cintilara sobre o presépio em que nascera o menino-deus.
(...)
O cometa fizera o milagre de reunir toda a minha família do Brasil: a maior, de que participavam os patrícios da rua; e a menor, formada por minha mãe, meu padrasto-pai, meu irmão italiano e meus irmãozinhos brasileiros, elos de sangue que me prendiam à vida. Viver era bonito, apesar de.
Ergui os olhos em agradecimento. E vi. E vimos! Foi um deslumbramento! Uma enorme estrela com cauda fosforecente riscava o céu.
(...)
Maravilha de aparição. (...) Era como se, no rastro do cometa, voltassem todas as amadas sombras luminosas do meu passado."
Por que esse trecho, sobre o cometa, me marcou?
Além de achar muito poética a linguagem, gostei da quantidade de sentimentos bons envolvidos - a união das pessoas, a esperança por novos tempos, melhores do que os passados, a gratidão, o deslumbramento por algo belo...
Apesar de a mocinha relatar que parecia véspera de Natal, pra mim parecia mais uma véspera de Ano Novo. Aquela mistura de sentimentos no dia 31/12 - gratidão pelas graças recebidas e esperança para dias melhores.
E agora, em 2020, também temos um cometa. Eu nunca tinha ouvido falar do tal Neowise, mas ele anda aparecendo em vários céus por aqui. Até a olho nu, ele deixa ser visto. Dizem na internet que dia 22 poderemos vê-lo, aqui na região onde moramos.
Assim como Fortunata, a mocinha do livro, também tenho esperança que esse cometa, de alguma forma misteriosa, varra as tristezas, e traga novos tempos, com bençãos a todos.
Desejo a todos luz, paz, e, principalmente, muita saúde!
Abraço!
Juliana
Capa do livro, meio maltratado. |
Cometa Neowise |
Cometa Halley |